Bossa Nova, da elite para a elite.

Aprendi Bossa Nova tocando violão nos aniversários de meu primo Júlio, 10 anos mais velho que eu, na época eu com 12 anos, ele já na Medicina da USP. Como aprendiz de violão, aluno do VIGU (revista violão guitarra), na época, posso testemunhar que era bem difícil acompanhar aquela turma cantando. Depois disso veio o Milton, o Egberto, mas ia ampliando meu repertório e dando uma canja nas festinhas e fogueiras.

A Bossa Nova nunca foi uma música popular.

Foi um movimento de elite, de jovens universitários e músicos nos anos 50: “uma Turma Bossa Nova”, assim eram conhecidos em suas primeiras apresentações. Um grupo que se reunia na casa da Nara Leão formado por maestro, poeta, arranjadores, todos com conhecimentos bem avançados de harmonização como Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lira, Menescal. No cenário inspirador das praias do Rio de Janeiro.

As harmonizações dissonantes, melodias meio faladas, e difíceis de cantar, estavam bem longe dos “chicletinhos” de três acordes naturais e quadradinhos que fazem sucesso fácil. Tem que ser bom e afinadíssimo. Alguns veem como uma evolução do samba canção, que utilizou a harmonização do jazz. Dick Farney foi uma ponte entre estes dois momentos.

Ironicamente “o cantinho e um violão” do Corcovado, ou o “Samba de Uma Nota Só”, nunca foram só isso. Com estruturas harmônicas sofisticadas, inspiradas no jazz dos anos 50, frases melódicas complexas, dignas de uma partitura de Bach, atraíram a atenção dos músicos de jazz americanos como Stan Getz, McCoy Tyner; até  até Sinatra e Sarah Vaughan gravaram e as traduziram para o mundo. Uma vez em Colônia na Alemanha, disse a um saxofonista que tocava “Garota de Ipanema”, “olá, você está tocando uma música brasileira…”, e ele respondeu “não, essa música é “Ipanema Girl” do Stan Getz ” (grrrr). “The Look of Love” do Burt Bacharach é outro bom exemplo como o ritmo ritmo passou a incorporar o repertório, engrossando a sessão de latinos. Nota: até hoje os americanos não conseguem tocar bossa nova direito, fazem em 4×4.

Gosto de tocar Bossa Nova. É difícil não ter referências do Stan Getz, mas sigo meus próprios improvisos, porque está no sangue. Procurei incluir no repertório peças menos comumente executadas, de autores como Menescal, Carlos Lira, fora os clássicos de Tom Jobim, e João Gilberto.

No vídeo abaixo “Estate” de João Gilberto gravado na Itália, “Você” de Roberto Menescal, “The Look of Love” Burt Bacharath.